quarta-feira, 15 de junho de 2011

Momento "Crepúsculo".. [Parte VII]

*** Dois anos atrás

- Mãe! Mãae! - gritei para dona Lena, minha querida e ocupada mãe.
- O que é, Li? Não tá vendo que estou lavando roupa? - ela disse, um pouco irritada.
- Eu vou para o parque, tá? Já terminei o dever!
- Certo, mas volte antes das quatros horas, hein? Não quero ouvir seu pai se ele chegar e você ainda estiver perambulando por aí.

Fazia uma semana que eu não saia de casa, a semana de provas estava se aproximando, e eu estava cada vez mais nervosa, estudando novamente os conteúdos que julgava mais complicados e revisando os demais. Naquele sábado eu queria tirar um pouco essa tensão de mim. Ficar sozinha, descansar, e esquecer de tudo. Levei comigo o livro "As pupilas do Senhor Reitor", era um dos meus prediletos do séc. XIX.

Chegando no parque, vi que estava bastante movimentado, e que não seria fácil encontrar um local reservado. Após alguns minutos procurando um lugar para me sentar, um garoto muito alto, muito forte, muito bonito, mas também parecia estar muito frustrado, muito triste (tudo nele era "muito") olhou para mim, como quem procurava mais por algo do que por alguém. Ele me olhou somente por um segundo e meio, mas isso me deixou intrigada, e também me lembrei do que papai sempre falava sobre garotos "que me olhassem demais", mas ele não passou muito tempo me olhando, e sim me olhou com muita intensidade. Ele passou por mim, e seguia olhando para todas as garotas que via pela frente, parecia desesperado. Fiquei meio confusa, mas depois de alguns tempo já tinha me esquecido disso

Voltei a procurar um local sossegado, sem sucesso. Desisti e me recostei no tronco de uma árvore que fazia sombra perto de um grupo de jovens tocando violão, e comecei a ler. Depois de algumas páginas, ao ler sobre Daniel, um rapazinho irresponsável e de coração volúvel, que ao voltar para a aldeia onde viveu conquista várias moças, me lembrei do garoto que vi mais cedo. E, por impulso, olhei para o parque, vendo se ele ainda estava por ali. Me assustei ao constatar que ele continuava olhando para as garotas que iam e viam pelo parque da mesma forma de quando cheguei.

Algumas garotas parecia se assustar com o olhar dele, outras demonstraram certo interesse, mas nenhuma delas, assim como ele, pararam para falar. Pouco tempo depois, ele sai do centro do parque, e foi em direção ao estacionamento, desabou sobre o capô de um carro, que parecia ser o dele, pois era tão grande e largo quanto.

Senti uma vontade de ir lá falar com ele, saber se estava tudo bem. Mas eu não devia falar assim com estranhos, principalmente aquele, que a segundos atrás estava olhando tantas garotas quanto seu globo ocular conseguia, ele devia ser como Daniel, de "As pupilas do Senhor Reitor", volúvel, que queria só alguma garota para se divertir. "Mas depois Daniel se apaixonou, e o amor mudou seu jeito, ele se tornou um rapaz sério e responsável!", pensei. Estava agora em um dilema, seguir o conselho de papai, ou me aventurar pelo menos uma vez na vida e ver o que acontece. Nunca fui aventureira, eu procurava os riscos de cada ação que eu pensava em fazer, aquilo me parecia algo completamente impensável, mas também novo e me despertava curiosidade.  Depois de algum tempo travando uma luta interna, decidi falar com ele.

-...

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